Matéria com entrevista de Renata Fillippi, Diretora Geral de Executive Search da STATO, publicada na edição de março da Revista Claudia:
Verdade seja dita: já é difícil trabalhar em paridade com a amiga, um parente ou o marido. Mas o que acontece quando você ou um deles vira chefe? Especialistas indicam como resguardar o amor e o carinho sem afetar a competência
TEXTO BIANCA CASTRO
Equilíbrio essencial
Os publicitários Mayra Gama, 35 anos, e Nívio de Souza, 51 anos, se conheceram quando participavam de um mesmo projeto. Levou um ano para o projeto engatar, em 2007. Três anos mais tarde, eles intensificaram a parceria nos negócios ao abrir uma produtora de filmes juntos. Receosos de que a instabilidade do início da empresa pudesse atrapalhar o orçamento da família – os dois já eram pais de Joaquim, hoje com 7 anos, e depois viria Luisa, 2 anos –, Nívio acabou se desligando do negócio e abrindo mão de sua parte na sociedade. Passou dois anos trabalhando em outra companhia. Quando a produtora já estava estabelecida, resolveu voltar – como funcionário e respondendo a Mayra. “Tomo decisões e distribuo tarefas sem nenhuma distinção entre ele e os outros membros da equipe”, explica a paulista. Ela explica ainda que a relação só deu certo porque respeita o marido profissionalmente. “Também tivemos algumas mudanças na dinâmica de casal: não peço conselhos e falamos bem menos de trabalho em casa”, diz ela.
O QUE FAZER Quando se assume uma posição de chefe de alguém íntimo – seja marido, amigo ou irmão, no caso de empresas familiares –, é essencial separar os assuntos de casa e do trabalho. Para que os limites fiquem claros, deve-se decidir quais serão eles em uma conversa tranquila. Depois disso, observe seu comportamento no ambiente profissional. “Evite reações prejudiciais, como dar preferência à pessoa ou, pior, segregá-la dos colegas. Sua postura deve ser a mesma mantida com os outros funcionários”, recomenda Renata Fillippi, diretora de recrutamento da consultoria de recursos humanos Stato, em São Paulo. Preste atenção, principalmente, no tom dos feedbacks, que devem ser sérios e não dados em meio a momentos de descontração pessoais (como um jantar em família ou uma happy hour com a turma).
O QUE NÃO FAZER “No caso de Mayra, o segredo do sucesso está na confiança que ela tem no trabalho do marido. Independentemente do grau de proximidade, nunca indique alguém para uma vaga se não confia na capacidade da pessoa, pois isso vai afetar diretamente sua imagem na companhia”, aconselha Daniela Leluddak, consultora e coach, de São Paulo.
Profissionalismo à prova
Formada em cinema, Tata Pierry, 35 anos, admirava a produtora de vídeo Joana Mazzucchelli, 40 anos, antes mesmo de conhecê-la pessoalmente. “Joana sempre foi um ícone na área e, desde o início da minha carreira, eu sonhava em trabalhar com ela”, conta Tata. Em 2013, um amigo em comum apresentou as duas. Foi amizade à primeira vista. A partir de então, elas passaram a frequentar o mesmo círculo social, partilhar happy hours e viagens à praia com as respectivas famílias. Meses depois, a produtora precisou de uma nova assistente e convidou Tata para a função. O trabalho estreitou ainda mais o vínculo e a admiração entre as duas, que asseguram não misturar as coisas. “Quando preciso ser dura, estabelecer limites e manifestar meu descontentamento com algum ponto de vista ou conduta de Tata, sou clara e objetiva, como seria com qualquer outro funcionário”, diz Joana. O relacionamento também garante uma boa dose de franqueza entre chefe e assistente, que não consegue esconder, por exemplo, problemas pessoais, mau humor ou questões de saúde uma da outra.
O QUE FAZER O ideal, quando se responde a uma amiga (ou parente), é descontruir a imagem de chefe autoritária e distante e traçar uma realista. Use a familiaridade a seu favor: saiba ler o humor da pessoa, seja transparente e lembre-se dos pontos fortes da líder – ela pode ser uma inspiração para sua carreira. Aceite críticas e conselhos com profissionalismo e leve-os para uma reflexão verdadeira a respeito da sua postura. Essa proximidade é a oportunidade de acelerar seu aprendizado e crescimento profissional.
O QUE NÃO FAZER Comece com o básico: evite apelidos e fofocas. Se precisar retomar um assunto pessoal, chame sua chefe para um almoço ou encontro depois do trabalho. “A intimidade exacerbada pode intervir nos momentos de tomada de decisão”, alerta Sulivan França, presidente da Sociedade Latino-Americana de Coaching, em São Paulo. Caso a líder tome alguma atitude com a qual você não concorda, lembre-se que ela ainda é sua chefe e defenda o seu ponto em uma reunião com formalidade. Procure não usar seu status fora do escritório para romper uma hierarquia já definida e nunca conte vantagem em ser amiga da chefe.
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